terça-feira, 23 de junho de 2009

Mestrado profissional vira política de Estado, diz Capes

Fonte: O Globo

O mestrado profissional, visto com desconfiança por setores do meio acadêmico, vai ganhar força a partir deste ano.

É o que revela o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Almeida Guimarães. Ele diz que a demanda por formação profissional levou o Ministério da Educação a rever o modelo centrado na pós-graduação acadêmica.

Haverá mudanças na avaliação dos cursos, permissão para que profissionais do mercado deem aulas no lugar de doutores e a oferta de bolsas para alunos de mestrados profissionais na área de educação.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

PERGUNTA: Quando os mestrados profissionais começaram a ser oferecidos no Brasil?
JORGE ALMEIDA GUIMARÃES: Começou no final da década de 1990, ainda na gestão do professor Abílio (Baeta Neves), com a perspectiva de que muitos mestrados acadêmicos, na verdade, são profissionais e só não tinham o nome. Recentemente saiu na revista "Science" uma enorme matéria sobre mestrado profissional nos Estados Unidos. É um fenômeno mundial. Aqui teve muita reação de algumas áreas, enquanto outras perceberam aquilo como um nicho.

— Reação contrária?
JORGE: Teve. Tem área que torce o nariz e até hoje não tem nenhum (mestrado profissional).

— Qual é a diferença de um mestrado profissional para um acadêmico?
JORGE: Até agora são duas diferenças básicas: o perfil do candidato e o foco. O mestrado profissional tem um foco específico de resolução de problemas. E o acadêmico, não: tem que se fazer levantamento da literatura, acompanhar o que está acontecendo no mundo, etc.

— Que áreas aderiram aos mestrados profissionais?
JORGE: A odontologia é uma das áreas que têm mais cursos profissionais. É um nicho muito importante, sobretudo em instituições privadas.

— Qual é o perfil do estudante do mestrado profissional?
JORGE: De um modo geral, ele não vai seguir carreira acadêmica. No mestrado acadêmico, ao contrário, vai fazer um doutorado, seguir para o exterior, produzir conhecimento, formar outros doutores. Geralmente é mais novo, enquanto o outro (o do mestrado profissional) é mais maduro, já tem emprego.

— O sr. diria que o mestrado profissional é um MBA melhorado?
JORGE: Ele pode nem ser um curso melhorado, em relação a um bom MBA. Mas tem o padrão Capes, o que significa acesso ao portal de periódicos (conjunto de publicações científicas de todo o mundo), avaliação, título reconhecido nacionalmente e a possibilidade de fazer doutorado depois.

— Qual é a duração de um mestrado profissional?
JORGE: No mínimo um ano, mas, de modo geral, dois anos, como o acadêmico. Requer um envolvimento muito maior do estudante, que tem que fazer um trabalho de conclusão. No MBA, nem sempre tem.

— O sr. diria que os mestrados profissionais competem com os MBAs e cursos de especialização?
JORGE: Vão competir agora. A avaliação (feita pela Capes nos mestrados profissionais) era muito criticada por ter um certo viés acadêmico. Apesar disso, nós já temos, se não me engano, 224 cursos de mestrado profissional no país. Se você compara só com metrado acadêmico, isto é, mestrado que não está junto com doutorado, os mestrados profissionais poderão chegar a 25% dos mestrados acadêmicos. Hoje estamos em 18%.


— De onde vem a demanda para os mestrados profissionais?
JORGE: Sobretudo do segmento privado. Queremos atrair para o sistema as universidades privadas que têm um bom nível. No contexto da pós-graduação acadêmica, 20% das instituições são não públicas. Quando eu comecei (há seis anos) eram 10% e passamos para 20%. Ou seja, não há preconceito, tem que ter qualidade. No mestrado profissional, porém, é meio a meio. E cresce mais no privado.

— Por que o governo tomou a decisão de investir nos mestrados profissionais?
JORGE: Porque há uma demanda enorme. Este ano o ministro (Fernando Haddad) me chamou e disse: "Vamos transformar o mestrado profissional em política de Estado, fazer um modelo diferente?" Batemos o martelo: vamos transformar o mestrado profissional em modelo de indução.

— Como funcionará esse novo modelo?
JORGE: O mestrado profissional passa a ser por edital, aberto a todas as áreas que se sintam atraídas. Hoje temos um aplicativo na internet, mas muita gente não fica sabendo. Com a chamada pública, pode ser que um hospital excelente em ortopedia, como este aqui do Distrito Federal (Sarah Kubitschek), diga: "Nós temos cinco doutores nisso e temos dez dos melhores cirurgiões. Vamos montar um mestrado profissional, vamos ganhar dinheiro à beça." Hoje precisa ser todo mundo doutor. Então, você atrai para o sistema grupos e atividades de excelência que estão fora porque não são tipicamente acadêmicos.

— Hoje todos os professores de um mestrado precisam ter doutorado?
JORGE: Sim. Aliás, vai ser obrigado ter uma mescla de doutores com técnicos de alto padrão. Nós não botamos um número, mas, digamos, que 40% dos docentes sejam técnicos (sem doutorado).

— E o sr. acha que isso estimulará a oferta de cursos de mestrado profissional?
JORGE: Vai facilitar muito. Em gestão hospitalar, por exemplo, há poucos profissionais com doutorado. Os caras aprenderam sozinhos. Vamos puxar para dentro do sistema essas pessoas. Tem muito disso nas áreas tecnológicas. Em direito, há juízes de altíssimo padrão que não têm doutorado e vão poder entrar.

— A Capes vai dar bolsas para alunos de mestrados profissionais, como já faz hoje nos cursos acadêmicos?
JORGE: Sim, vamos ter exceções para as áreas de interesse do Estado. A educação, por exemplo, vai ter bolsa para professor de escola pública.

— Qual o valor da bolsa?
JORGE: Estamos discutindo a seguinte coisa: se o curso for na mesma cidade, o valor será um pouco menor. Se for a mais de tantos quilômetros, o mestrando vai ganhar bolsa integral. O valor da bolsa de mestrado acadêmico hoje é R$ 1.200 por mês.

— Que outras medidas serão tomadas?
JORGE: Outra coisa é que a avaliação será totalmente diferente. Incluirá o desempenho acadêmico, mas abrindo um leque de possibilidades. Vai entrar uma série de outros indicadores de desempenho.

— Dê um exemplo.
JORGE: O camarada passa um período numa empresa, como consultor. Ele está fazendo mestrado profissional e nem é empregado daquela empresa. Essa consultoria contará (pontos). A empresa vai dizer se valeu a pena. Contará pontos e até pode ser a própria defesa final (em vez de dissertação). Se for assunto de sigilo industrial, pode ser uma defesa sigilosa. Tem que ter um trabalho final, só que o trabalho não precisa ser a tese clássica. Pode ser uma patente, uma consultoria, um conjunto de artigos na imprensa.

(Entrevista publicada ontem no caderno "Boa Chance", do jornal "O Globo")

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Tchau Palmeiras

Como é que os porcos fazem um negócio desse? Tira o Sport e se arrebenta contra aquele timinho.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Como se concentrar em meio a tantas distrações

Abra mão do mito do "multitasking" para levar uma "vida focada"

por John Tierney, para o New York Times

foco Imagine que você deixou seu laptop de lado e desligou seu celular. Você está fora do alcance do YouTube, do Facebook, do e-mail e das mensagens de texto. Está sentado num táxi com um exemplar de "Rapt" (Extasiado), um guia de Winifred Gallagher à ciência do prestar atenção.

O tema do livro, que Gallagher escolheu depois de descobrir que sofria de um tumor maligno, é inspirado no psicólogo William James: "Minha experiência é aquilo ao qual concordo em prestar atenção". Você pode levar uma vida infeliz, focando sua atenção nos problemas. Pode se levar à loucura, tentando realizar tarefas múltiplas ao mesmo tempo e responder a todos os e-mails imediatamente.

Ou, então, pode reconhecer a capacidade finita de processar informações que tem seu cérebro e conquistar as satisfações do que Gallagher descreve como a vida focada. Soa atraente, só que, enquanto você está sentado no táxi, lendo sobre a ciência do prestar atenção, você percebe que não está prestando atenção a uma única palavra do que está na página.

A TV do táxi, que não pode ser desligada, está mostrando um comercial sobre um sujeito num táxi trabalhando num laptop -e, enquanto ele conta como seu novo cartão wireless tornou mais produtivo o percurso no táxi, você não consegue fazer nada de produtivo durante o seu próprio trajeto.

Será que ainda há, em algum lugar, um refúgio realista da idade da distração? Fiz essas perguntas a Gallagher e a um dos especialistas citados em seu livro, o neurocientista Robert Desimone, do Massachusetts Institute of Technology. Desimone vem rastreando as ondas cerebrais de símios do gênero macacus e de humanos, enquanto olham para telas de vídeo, à procura de determinados padrões que vão e vêm em flash.

Quando uma coisa iluminada ou nova pisca, ela tende a automaticamente vencer a disputa pela atenção do cérebro, mas esse impulso involuntário pode ser superado voluntariamente por meio de um processo que Desimone chama de "competição enviesada".

Ele e alguns de seus colegas descobriram que neurônios no córtex pré-frontal -o centro de planejamento do cérebro- começam a oscilar em uníssono, criando ondas gama, e enviam sinais direcionando o córtex visual a prestar atenção a outra coisa.

Para Desimone, uma terapia desse tipo pode ajudar pessoas que sofrem de esquizofrenia ou déficit de atenção, com menos efeitos colaterais que medicamentos. Se pudesse ser feita com uma luz de baixo comprimento de onda, que penetrasse o crânio, seria possível simplesmente colocar (ou tirar) um minúsculo aparelho sem fios.

Depois que descobriu como é difícil para o cérebro deixar de prestar atenção a sons, Gallagher começou a levar tampões de ouvidos em sua bolsa. Quando você está preso num metrô barulhento, disse, precisa construir seu próprio "abrigo" contra os estímulos. Gallagher recomenda às pessoas iniciar o dia de trabalho concentrando-se sobre a tarefa mais importante do dia durante 90 minutos. Depois disso, seu córtex pré-frontal provavelmente precisará de um descanso. É o momento em que você pode responder e-mails, retornar telefonemas e tomar uma bebida com cafeína (que de fato auxilia a atenção), antes de voltar a focar no trabalho. Mas, até esse primeiro "recreio", não se deixe distrair, porque depois de uma interrupção o cérebro pode levar 20 minutos para ser "reiniciado".

"O multitasking é um mito", disse Gallagher. "Não é possível fazer duas coisas ao mesmo tempo. O mecanismo da atenção é a seleção: ou uma coisa ou outra." E prossegue: "A atenção é um recurso finito, como o dinheiro. Você quer investir seu dinheiro cognitivo mandando mensagens pelo Twitter, navegando na internet ou assistindo à TV? Fazemos escolhas constantes, e nossas escolhas determinam nossa experiência".

Gallagher contou que quando se tratou do câncer, há alguns anos, conseguiu se manter relativamente bem humorada, guardando em mente o mantra de William James e também um verso de John Milton: "A mente é seu próprio lugar, e, sozinha / é capaz de converter o céu em inferno ou o inferno em céu".

"Dizia a mim mesma: 'Você quer ficar deitada aqui, prestando atenção às grandes chances de que você vá morrer e deixar seus filhos sem mãe, ou quer se levantar, lavar o rosto e prestar atenção a seu trabalho, sua família e seus amigos?'. Céu ou inferno -a escolha é sua", disse.